A descoberta da ignorância
Os biólogos dizem que o DNA é a base molecular para a
reprodução sexual. Cada um de nós assemelha-se aos nossos pais porque herdamos
um complemento de seu DNA, mas não herdamos o caráter, as atitudes nem sua
religiosidade. Para isto somos ensinados, treinados e direcionados.
O animal humano não consegue preservar a informação crítica à
sua gestão simplesmente através da realização de cópias de seu DNA e de sua
transmissão à progenitura. É necessário realizar um esforço constante para
sustentar suas leis, seus costumes, seus procedimentos e sua religiosidade.
As grandes sociedades de algumas espécies são estáveis e
resilientes porque a maioria das informações que necessitam estão contidas em
seu genoma. A larva de uma abelha melífera pode crescer e se transformar numa
rainha ou numa operária, dependendo do alimento que recebe. No seu DNA está
contido o programa necessário para os dois papéis, seja a etiqueta real ou a
diligência proletária. As colmeias podem ser estruturas sociais muito complexas
contendo diferentes ações trabalhadoras;
coletores. transportadores, enfermeiros e faxineiros. No entanto nenhum
pesquisador foi capaz de encontrar um advogado nem um professor. As abelhas não precisam de advogados, porque não
existe o perigo de tentarem contornar a constituição da colmeia negando às
abelhas da limpeza o direito à vida, à liberdade ou à procura da felicidade e nem de professores para lhes ensinar algum ofício.
A maioria das pessoas não querem aceitar que a ordem que
gerencia suas vidas é imaginária, mas, de fato, cada pessoa nasce com uma ordem
preexistente e seus desejos são informações impostas desde o seu nascimento.
Tendo por base as ordens sobre humanas, a religião estabelece normas e valores
que considera vinculativos. Muitos ocidentais acreditam em fantasmas, fadas,
reencarnação e sobrevida após a morte. Mas estas crenças não são uma fonte de
padrões morais. Dois milhares de anos de lavagem cerebral monoteísta levaram os
ocidentais a verem o politeísmo como uma idolatria ignorante e infantil.
O ponto de vista fundamental do politeísmo que o difere do
monoteísmo, é que o poder supremo que governa o mundo é vazio de interesses e
preconceitos, e, como tal, não se preocupa com os desejos mundanos. É inútil pedir
a estas potências a vitória na guerra, saúde ou chuva, porque do ponto de vista
global, não faz diferença se um reino em particular ganha ou perde, se uma
pessoa recupera ou morre. Os gregos não desperdiçavam sacrifícios com o
destino.
A única razão para abordar o politeísmo como suprema potência
seria para renunciar a todos os desejos e abraçar o mau juntamente com o bom,
aceitar a derrota, a pobreza, a morte e compreender que, de sua perspectiva
eterna, todos os desejos e medos mundanos eram fenômenos insignificantes e
efêmeros.
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