Agrotóxicos
Às vezes não quero acreditar que vivo numa sociedade de
analfabetos funcionais. Estou estarrecido assistindo a uma novela de grande
audiência em que um personagem graduado numa universidade francesa prega a
agricultura orgânica de subsistência em detrimento à agricultura industrial. O
nome “Agricultura Sintrópica” é mais um verbete dos filhos da revolução verde
improdutivos. O sistema há muito já é usado na Amazônia por pequenos produtores
para recuperar nascentes, áreas degradadas e matas ciliares. Consorciando
agricultura familiar, árvores frutíferas, apicultura e preservando ou plantando
vegetação regional protegendo o ambiente. Muito válido para micro agricultores
e assentados. Ernst Gotsch não descobriu a pólvora.
Ora!..Ora!.. O autor deveria ter se informado sobre o
assunto, antes de difundir suas
convicções políticas de esquerdista. Os agrotóxicos salvaram florestas e
bilhões de vidas, e, o homem que mais ajudou a amenizar a fome das pessoas, não
foi um político comprometido com o povo nem um líder religioso benevolente.
Trata-se do químico alemão FRITZ HABER, cientista-chefe do departamento de
armas químicas da Alemanha durante a 1ª Guerra Mundial. HABER defendia o uso do
gás cloro nas trincheiras coordenando um ataque em Ipres, na Bélgica onde a
armas químicas alemãs mataram quinze mil soldados franceses e canadenses em
abril de 1915. Mas se deve a este homem
uma invenção que transformou o mundo.
Em julho de 1909, num laboratório montado pela Basf, ao sul
da Alemanha, ele misturou hidrogênio com nitrogênio do ar numa câmara a 600° de temperatura e pressão
200 vezes a atmosférica ao nível do mar conseguindo produzir amônia. Haber
produziu poucos centímetros cúbicos de amônia, menos que um pote de Danoninho.
Para entender a importância deste descobrimento é necessário
lembrar como funcionava a agricultura, até então. As plantas não são capazes de
retirar o nitrogênio do ar. Elas o absorvem, na terra, através das raízes. A
cada colheita o solo se torna mais pobre em nitrogênio, que tradicionalmente é remediado com esterco, que servia para
recuperar o solo pobre em nitrogênio. Mas era necessária uma quantidade
mastodôntica para alcançar algum efeito. Não havia pesticidas e fertilizantes
sintéticos e os agricultores evitavam as pragas e doenças das plantas com
técnicas milenares. As famílias plantavam e colhiam com as mãos ou ferramentas
rudimentares, fazendo com que um hectare lhes rendessem 700 kg de trigo, ou 1/5
do que rende hoje. Este mundo idílico e ecologicamente correto tinha um
resultado,...a fome.
A fome matou 10% dos ingleses entre 1315 e 1317, um terço dos
russos entre 1601 e 1603, 10% dos franceses e noruegueses no final do século
XVII e 20% dos irlandeses 1845 e 1849. Hoje a produção de nitrogênio é de 143
milhões de toneladas/ano. Para se obter 1kg de nitrogênio é necessário 1,5
tonelada de esterco de galinha, que é o mais rico em N. Ou seja... Para se
obter um saco de fertilizante químico industrial serão necessários 22.000 kg de
merda.
Com a ascensão de Hitler, Franz Huber se mudou para a
Inglaterra e não viu uma de suas criações, o gás Ziklon A, criado para eliminar
insetos que infestavam celeiros de trigos se transformar no gás da câmara de
morte nazista.
Por onde passou, a combinação de fertilizantes, defensivos,
máquinas e sementes selecionadas multiplicaram colheitas. No século XX,
enquanto a população humana cresceu 3,7%, a produção de alimentos foi
multiplicada por sete. O fato é que a agricultura evitou o desmatamento de
milhares de hectares de floresta por ser possível produzir bem mais na mesma
área. Cerca de 3 bilhões de pessoas, quase a metade da população humana, teria
pouco o que comer caso a agricultura orgânica ainda predominasse.
Não é à toa que as
maiores crises de fome ocorridas no século XX foi fruto de política conduzida
por analfabetos funcionais. É o caso da África onde as novas técnicas sofreram
resistências de governos apegados á ideias de agricultura de subsistência. Na
Etiópia, o governo comunista de Haile Selassie fez tudo o que podia para
boicotar a importação de fertilizantes, tabelou preços e amontoou camponeses em
fazendas estatais e proibindo o cultivo privado tornando a agricultura mais
improdutiva do que era. O sistema feudal foi abolido com a queda de Salassie em
1975 e a perda de mais de 40.000 vidas extintas pela fome. A população aumentou
em índices superiores ao da produção de alimentos e quando veio a seca de 1983
a 1985 não havia estoque de alimentos e 400 mil etíopes morreram de fome. Na China houve a maior crise de fome do século
XX. Durante o governo comunista de Mao Tsé-tung que, também, era contrário á
fertilização e defensivos químicos para aumentar a produção agrícola, colheu 15
milhões de mortos pela fome entre 1958 e 1961. Mao Tsé-tung só abriu o olho em
1972 durante a visita de Richard Nixon. Na comitiva americana estava um
executivo da KELLOGG e os chineses adquiriram cinco grandes fábricas de
fertilizantes. Alguns anos depois a China já era a maior produtora de
fertilizantes químicos do mundo.
Agricultura de subsistência ou orgânica é para pequenos
produtores para seu próprio consumo ou venda em baixa escala.
Espero que os ecologicamente corretos ou filhos da revolução
verde se lembrem de agradecer aos cientistas ambiciosos e grandes fazendeiros
todas as vezes que saborearem um cereal, leite ou qualquer produto agrícola e
respirar aliviado por viver numa época em que a agricultura orgânica não impera
no mundo.
Obtive várias
fontes de informações. Geoffrey
Blainey, Yuval Harari, Wikipédia e
principalmente Leandro Narloch.
Comentários
No nosso pequeno quintal, plantamos algumas frutas, verduras e ervas, outro dia colhemos uma melancia suculenta, doce, mamões, bananas, maracujá e você não imagina o prazer que sentimos, sabendo que nenhuma produção, precisou de ser protegida com agrotóxicos.
Não seria importante educar o povo para ter suas plantações caseiras?
Meu marido viveu um tempo em dois diferentes países da África, ele falou sobre a terra fértil e a falta de iniciativa dos nativos, para plantar para o seu próprio sustento. Claro que não seria suficiente para abastecer todas as populações, mas ajudaria muito a quem vive numa dependência absoluta do mercado.
O cultivo de alimentos orgânicos seria o ideal caso a população humana na Terra não fosse tão numerosa já que, sabidamente, a produtividade num hectare cultivado sem agrotóxicos é bem inferior do que na agricultura convencional.
O fato é que a agricultura orgânica seria mais adequada para regiões de preservação ambiental, dentro ou no entorno de unidades de conservação da natureza para se evitar agressões ao ecossistema nativo ao mesmo tempo em que gera trabalho e renda para a população residente. Também se justifica o cultivo sem agrotóxicos nas hortas caseiras e pequenas propriedades nas quais o produtor tenha encontrado um mercado específico.
Todavia, acredito que a alimentação do futuro será transgênica e ao mesmo tempo mais limpa (com menos agrotóxicos). Pois, através da biotecnologia, o homem pode desenvolver plantas mais resistentes e nutritivas.
Enfim, ciência e tecnologia devem caminhar juntas sendo os agrotóxicos ainda um mal necessário. Algo que precisa ser também controlado já que o uso abusivo pode causar diversos males à saúde humana e ao meio ambiente.