A Criação de amortais
Durante séculos a humanidade santificou algo que está acima
ou além da nossa existência terrena e consequentemente foram bem tolerantes com
a morte. Uma vez que o Cristianismo, o Islamismo ou o Hinduísmo insistira que o
significado da nossa existência dependia da sina do pós vida e eles
consideraram a morte como parte vital e positiva sem ênfase à vida. Humanos
morriam porque assim Deus decretava, e o momento de sua morte era uma
experiência metafísica. Era?... Quando um homem estava próximo a seu derradeiro
suspiro, era a hora de convocar pastores, sacerdotes, rabinos, xamãs, fazer um
balanço da sua vida e assumir seu verdadeiro papel no universo. Tente imaginar
o Cristianismo, o Islamismo e o Hinduísmo em um mundo sem morte. O que seria
também um mundo sem céu, inferno ou reencarnação. Histórias fantásticas
descrevem a morte como uma figura envolvida em um manto negro com capuz
empunhando uma grande foice. Um homem vive sua vida preocupando-se com mil
coisas quando, subitamente, surge o “anjo da morte” tocando-lhe o ombro com seu
dedo esquelético e diz: “Venha”!... E o
homem implora: Não!..Por favor! Espere mais um ano, um mês, um dia!!!... Mas a
figura encapuzada sibila: “Você tem que vir agora”. E é assim que morremos.
A ciência e a cultura moderna têm uma visão totalmente
diferente da vida e da morte. Não pensam que a morte seja um mistério
metafísico nem tampouco a fonte do sentido da vida. Na verdade, para as pessoas
evoluídas, a morte é um problema técnico que pode e deve ser resolvido. Na
realidade ninguém morre porque uma figura envolta num manto negro bate em seu
ombro, ou porque Deus assim decretou, ou porque a mortalidade faz parte de
algum plano cósmico. Humanos morrem devido a alguma falha técnica. O coração
para de bombear sangue. A artéria principal entope por acúmulo de gorduras.
Células cancerosas espalham-se no fígado ou próstata. Germes multiplicam-se nos
pulmões. E de quem é a responsabilidade por todas estas falhas técnicas?..
Outros problemas técnicos. O coração para de bombear sangue por falta de
oxigênio suficiente no músculo cardíaco. Células cancerígenas se espalham
porque uma mutação genética acidental reescreveu suas instruções. Germes se
instalam nos pulmões porque algum portador espirrou no metrô. Nada metafísico.
Somente problemas técnicos e todo problema técnico tem uma solução técnica. Não
é necessário esperar a vinda de Cristo à terra para superar a morte. Alguns
cientistas em laboratório podem fazer isto. As células cancerosas podem ser
mortas através de quimioterapia. Os vermes dos pulmões podem ser extintos com o
uso de antibióticos. Se o coração parar de bater é possível reanima-lo com
medicamentos ou choques elétricos. Se a artéria principal entupir é possível
desobstruí-la através de angioplastia com uso de stent. Se nada disto funcionar
pode-se realizar o transplante de um órgão novo. A ciência ainda não tem
solução para todos os problemas técnicos, mas não tardará o dia em que
encontrará. O direito a vida não foi limitado.
Existem três maneiras de encarar a morte:
Aceitá-la. Negá-la ou combatê-la. Nossa sociedade é dominada por pessoas que
estão entre aceitá-la ou negá-la, mas há pessoas que preferem combatê-la. Mesmo
a ciência proporcionando a criação de super-humanos eles serão amortais, e não imortais.
Eles poderão morrer numa guerra, num acidente de trânsito e nada os trará de
volta. Diferente de nós mortais, suas vidas não terão prazo de validade.
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