Teologia relacional
A teologia relacional traz um forte apelo a alguns
evangélicos, pois diz que Deus está mais próximo de nós e se relaciona mais
significativamente conosco do que tem sido apresentado pela teologia
tradicional. Segundo os teólogos relacionais, o cristianismo histórico tem mostrado um Deus impassível, que não se sensibiliza com os dramas de suas
criaturas e pretende apresentar um outro Deus mais
humano, que constrói o futuro mediante o relacionamento com suas criaturas. Os
seres humanos são, dessa forma, co-participantes com Deus na construção do
futuro, podendo, na verdade, determiná-lo por suas atitudes.
Mesmo tendo surgido como uma reação a uma possível ênfase
exagerada na impassividade e transcendência de Deus, a teologia relacional
acaba sendo um problema para a igreja evangélica, especialmente em seu conceito
sobre Deus. Embora os evangélicos tenham divergências profundas em algumas
questões, reformados, arminianos, wesleyanos, pentecostais, tradicionais,
neopentecostais e outros, todos concordam, no mínimo, que Deus conhece todas as
coisas, que é onipotente e soberano. Entretanto, o Deus da teologia relacional
é totalmente diferente daquele da teologia cristã. Não se pode afirmar que os
adeptos da teologia relacional não são cristãos, mas que o conceito que eles
têm de Deus é, no mínimo, estranho ao cristianismo histórico.
Ao declarar que o atributo mais importante de Deus é o
amor, a teologia relacional perde o equilíbrio entre as qualidades de Deus
apresentadas na Bíblia, dentre as quais o amor é apenas uma delas. Ao dizer que
Deus ignora o futuro, é vulnerável e mutável, deixa sem explicação adequada
dezenas de passagens bíblicas que falam da soberania, do senhorio, da
onipotência e da onisciência de Deus. Ao dizer que Deus não sabia qual a
decisão de Adão e Eva no Éden, e que mesmo assim arriscou-se em criá-los com
livre arbítrio, a teologia relacional o transforma num ser irresponsável. Ao
falar do homem como co-construtor de Deus de um futuro que inexiste, a teologia
relacional esquece tudo o que a Bíblia ensina sobre a queda e a corrupção do
homem. O que ela tem de novo é que virou um movimento teológico composto de
escritores e teólogos que se uniram em torno dos pontos comuns e estão dispostos
a persuadir a igreja cristã a abandonar seu conceito tradicional de Deus e a
convencê-la que esta “nova” visão de Deus é evangélica e bíblica. Ao fim, parece-nos que na tentativa extrema de resguardar a plena liberdade do livre arbítrio, a teologia relacional está disposta a sacrificar a divindade de Deus. Com certeza, a visão tradicional de Deus adotada pelo cristianismo histórico por séculos, não é capaz de responder exaustivamente a todos os questionamentos sobre o ser e os planos de Deus. Ela própria é a primeira a admitir este ponto. Contudo, é preferível permanecer com perguntas não respondidas a aceitar respostas que contrariem conceitos claros das escrituras. Isto quer dizer que o Deus cristão ainda está em formação. E haja fé!!
Comentários
Mas isso não é novidade, Miranda, pelo menos no meio psicanalítico.
Jacques Lacan, em um seminário em 1959, expõe como funciona a psique do cristão dessacralizado da atualidade, baseado numa citação de Hegel. Veja se o que ele diz abaixo é ou não é de uma clareza impar:
“Há uma certa mensagem atéia do próprio cristianismo. É pelo cristianismo, diz Hegel, que se completa a destruição dos deuses. Com efeito, este ateísmo não é antiteísmo, mas o luto do Pai ideal, Senhor e Rei”
Os testemunhos dos evangelistas apresentam um Jesus fazendo primeiro um apelo a um Pai que seria todo-poderoso, depois renuncia a esse pedido para abandonar-se nas mãos de um Pai que nada pode sem o consentimento de seu filho.
Quando Jesus solta o grito: “Pai, entrego em tuas mãos meu espírito”, não se trata de um Gozo masoquista. Ele, simplesmente faz sua adesão a um Pai não-poderoso que, com seu “filho”, cala-se diante da violência humana. Essa compreensão, é sim, mais profundamente existencial/espiritual que a teológica tradicional.
Sempre procuro ver o lado positivo de tudo e creio mesmo como escreveu no final que as ideias sobre Deus estão e continuam em formação.
Fato é que, na teologia relacional, há uma forte possibilidade dos devotos começarem a criar seus deuses à imagem e semelhança deles mesmos.
De qualquer modo, o relacionamento do homem com o sagrado, ou com o transcendental-espiritual, requer em certos momentos uma relação de proximidade que o ajude nas suas carências. E, se formos analisar a Bíblia, temos no relato uma Divindade relacional no trato com diversos personagens ali e que não ser harmoniza com uma ideia única de como é esse Deus.
Como não tenho apego doutrinário, sinto-me à vontade com as diversas construções sobre a Divindade desde que positivas para o melhoramento humano. Aliás, somos nós, na nossa fragilidade, que precisamos delas. Deus em si creio que não.
Bom feriado!